A Revolução da Arte: Inteligência Artificial e os Debates sobre Apropriação de Estilo e Ética

Popular Trend do Studio Ghibli feito com inteligência artificial gera debates sobre apropriação de estilo e ética na arte.

CULTURA POP

Por Eliel Moura

4/1/20253 min read

Se você vive no planeta terra nos últimos dias então com certeza você deve ter visto a Trend que viralizou em diversas redes sociais e que transformou todo mundo em animação.

Durante a semana que passou, diversas celebridades, influenciadores digitais, redes de televisão e pessoas em geral utilizaram o ChatGPT para recriar fotos no estilo do Studio Ghibli, estúdio de animação responsável por criar filmes como "Castelo Animado", "A viagem de Chihiro", e o recém premiado "O menino e a Garça" que levou a estatueta de melhor animação no Oscar 2024.

Em 2016, antes mesmo do ChatGPT ser criado Hayao Miyazaki — Diretor dos filmes citados, se pronunciou a respeito do uso dessas tecnologias.

Apesar de divertida, a Trend gera um debate a em torno da utilização de IA na arte e a apropriação de estilo. Muitas ferramentas de IA são projetadas para analisar e reproduzir estilos de artistas famosos, possibilitando que qualquer pessoa crie obras em poucos minutos. Embora isso possa ser visto como uma democratização do acesso à arte, muitos críticos questionam se isso não equivale a uma forma de cópia.

Durante a campanha ao Oscar 2025, surgiram algumas criticas sobre os filmes "O brutalista" e "Emília Perez" pois estariam utilizando inteligência artificial para modificar o sotaque dos personagens, gerando desaprovação por parte de críticos, público e cineastas que argumentaram sobre a ética e autenticidade para o cinema.

"Eu nunca desejaria incorporar essa tecnologia ao meu trabalho. Sinto fortemente que isso é um insulto à própria vida"

-Hayao Miyazaki (2016)

O filosofo Alemão Walter Benjamin aborda a recriação da obra de arte no contexto da sua teoria sobre a "perda da aura" na era da reprodutibilidade técnica, especialmente em seu ensaio A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica (1936). Ele argumenta que, com a possibilidade de reprodução em massa (fotografia, cinema, impressão), a obra de arte perde sua aura, ou seja, a unicidade e autenticidade ligadas ao tempo e ao espaço originais em que foi criada. Diferente de uma pintura única, uma fotografia ou filme pode ser copiado indefinidamente, deslocando a experiência estética para um novo patamar.

Se Walter Benjamin pudesse analisar a Trend do Studio Ghibli e as IAs que recriam essa estética, ele provavelmente diria que estamos testemunhando um novo estágio da reprodutibilidade técnica, agora impulsionada pela inteligência artificial. A estética do Studio Ghibli é marcada por sua artesanalidade, com animações desenhadas à mão, atenção aos detalhes e uma atmosfera nostálgica e sensível. A IA, ao automatizar esse estilo, não apenas o reproduz, mas o desvincula da experiência humana que o criou. Isso ecoa a tese central de Benjamin: quando a arte se torna reproduzível sem o contexto original de sua criação, ela perde sua aura.

Em um mundo onde a arte é constantemente reproduzida e reinterpretada, a recriação não seria apenas uma cópia, mas uma reformulação do seu sentido e impacto. Ele reconhece que a reprodução pode democratizar a arte, tornando-a acessível a mais pessoas, mas ao mesmo tempo, pode esvaziá-la de seu valor ritualístico e tradicional.