Flow e o olhar de Berkeley: O mundo existe sem um observador?

Se uma árvore cai em uma floresta e não tem ninguém para ouvi-la cair, ela fez barulho ?

George Berkeley (1685 - 1753) foi um filósofo irlandês, sendo um dos principais representantes do idealismo subjetivo, essa corrente filosófica argumenta que a realidade é dependente da mente que a percebe.

"Ser é ser percebido" é o principio da filosofia de Berkeley, para o filósofo não há matéria independente da mente, sendo tudo o que nós concebemos é construção da nossa mente, então se uma árvore cai numa floresta e não tem ninguém para ouvi-la, ela não produzirá som, no entanto para evitar um colapso da realidade, há Deus que tudo observa, permitindo assim que a realidade continue existindo.

No filme Flow de 2024, os humanos desaparecem, restando somente os animais que precisam sobreviver em uma inundação. Na animação a realidade continua existindo mesmo sem a presença dos humanos. Podemos observar filosoficamente alguns pontos durante o filme, como por exemplo:

A realidade tal qual conhecemos continuaria a existir mesmo sem a presença dos humanos: para essa análise, teremos que tirar dos seres humanos uma espécie de protagonismo, de que tudo depende da raça humana para continuar existindo, essa perspectiva encontra apoio até mesmo na filosofia de Ailton Krenak que critica o antropocentrismo, onde os animais, plantas, rios e montanhas tem existências independente da percepção dos indivíduos.

Outro ponto que podemos refletir é: as coisas existem independentemente de qualquer mente, crenças humanas ou ser vivo que os observe: essa perspectiva retira de todos os seres essa responsabilidade da existência das coisas, essa compreensão tem nome na filosofia e chama-se de realismo metafisico.

Por fim, outra ideia interessante é a de que nós enquanto espectadores fazemos o mundo do filme existir à medida que assistimos a produção, dessa forma, tomamos quase que o lugar de Deus na perspectiva do Berckley, pois ainda que o gato feche os olhos, estamos lá observando as coisas para que nada deixe de existir, ainda que no nosso mundo fechemos os nossos olhos.

"Flow" permite a visualização de varias perspectivas filosóficas, principalmente as de panorama ameríndia, filosofias decoloniais e contracoloniais como as de Ailton Krenak e de Davi Kopenawa, além das filosofias da natureza e perspectivas não humanas.